Memória curta é um mal do brasileiro. Se na China aos mais antigos são confiadas as crianças, justamente para que os mais velhos lhes transmitam valores e ensinamentos, no Brasil, aos mais antigos é dado desprezo, a começar pelo governo, com seu sistema previdenciário injusto. Na política também se sofre do mesmo mal: a luta dos que vieram antes, aplainaram o terreno é pouco reconhecida e desprezada. Hoje, qual jovem sabe dos percalços do movimento subterrâneo que existia nos bairros contra a ditadura militar, realizado pela militância comunitária nas Sociedades Amigos e movimentos reivindicatórios?
A época era de perseguições, onde conversar em três pessoas já era motivo de suspeita – e isto durou até 1985, quando se findou definitivamente o Regime Militar. Na região Brasilândia-Freguesia do Ó, é bom sempre relembrar para refrescar os sem-memória, houve também resistência à ditadura militar através do Movimento Contra a Carestia, principalmente com a ação de partidos clandestinos de então, como o PC do B, e através dos padres progressistas, como Frei Alamiro, de saudosa atuação na Paróquia de Vila Brasilândia; e através do diretório do MDB, que elegeu Benedito Cintra vereador, aos 21 anos de idade, depois Sergio Santos, deputado, e posteriormente, Teresa Lajolo (PT) e depois Nivaldo Santana (PC do B). Os dois últimos encerraram esse ciclo da esquerda ao perderem essa base regional.
UMA LUTA MEMORÁVEL
É memorável a luta realizada, a partir do final da década de 70, na Brasilândia, coordenada pelo então deputado estadual Benedito Cintra (MDB), que através do incentivo à organização popular trouxe muitas melhorias para o bairro, assim como o ex-deputado (já falecido) Sérgio Santos. Foi, a partir desta luta e nesta época a retomada da organização da Festa da Freguesia do Ó, comemorativa ao aniversário do bairro, e que foi marcada pela participação das organizações populares (bons tempos); logo vieram a instalação do Sacolão Freguesia do Ó, na Vila Penteado; a conquista do Pronto Socorro 21 de Junho, da Av. João Paulo 1º etc.
JORNAL - Na Brasilândia, a luta política contra a ditadura militar redundou no surgimento de duas forças, ambas saídas da influência do deputado Benedito Cintra: este jornal, então com o nome de Jornal da Brasilândia, cujo jornalista responsável, Célio Pires, foi um dos coordenadores da reivindicação popular que conquistou o Centro Esportivo da Brasilândia, a volta de uma linha da CMTC (empresa estatal de transportes coletivos); a implantação do Circo Escola na V. Penteado; e a inauguração do Banespa (banco estatal que foi fechado pelo governo FHC) – e também foi na sede do jornal que se criou o primeiro movimento reivindicatório pró-metrô para Brasilândia - Freguesia do Ó, uma utopia de antes, realidade de agora. Ele sempre pôs o jornal a serviço das lutas populares e acreditou no sonho e na conquista coletiva.
JOÃO DA BANCA - Outro que se destacou neste momento de transição, quando foram criados os cinco primeiros partidos, em meados da década de 80, no período entre a ditadura militar e o inicio da fase democrática, conhecida como abertura política, foi o líder comunitário João da Banca (Antonio João Afonso), quando a esquerda começou a perder forças na Brasilândia. A criação do PMDB do qual João foi presidente, passou a exercer papel aglutinador no bairro e a coordenar a luta política local, que se deu definitivamente a partir da saída de Benedito Cintra, que foi para o PC do B, legalizado então - e este perdeu a eleição por questões da sua vida pessoal, exploradas negativamente pela imprensa marrom (leia-se Notícias Populares).
João da Banca trouxe para o bairro políticos que se tornaram fortes e coordenou campanhas eleitorais de José Serra, na sua primeira incursão a deputado federal, sempre junto com Célio Pires ao lado; Walter Feldman, Aloísio Nunes e principalmente a de Orestes Quércia (vitoriosa), ao governo, e Fernando Henrique à Prefeitura (derrotado por Jânio Quadros), além de ter sido interlocutor no bairro do então prefeito Mário Covas – responsável pela implantação do Centro Esportivo de Vila Brasilândia, na Estrada do Sabão. É desta época a conquista dos três hospitais do Estado, luta esta realizada pelo movimento popular e sociedade amigos de bairro, que também avançaram na organização e na luta e se enraizaram nas vilas e jardins até os dias de hoje.
DIREITA - Depois destas fases apareceram outras forças políticas, entre eles o deputado estadual Celino e os vereadores Viviani Ferraz, Maria Helena e Hanna Garib – os três últimos tiveram seu auge na época do domínio da direita na Prefeitura (Maluf e Pitta) e depois caíram por terra. O deputado Celino (de centro) permanece firme politicamente e influente, ajudou a eleger o vereador Pierre e, agora, na reeleição do vereador Claudinho, mas isto já é outra história.
RESPEITO É BOM: Rememorar é bom, para refrescar a memória de gente que não se expôs quando era difícil fazer política e assumir posições democráticas mínimas, mas hoje tenta reinventar a roda. É bom respeitar pessoas como João da Banca, Benedito Cintra, Teresa Lajolo e a memória de Sérgio Santos muitos outros, e até o papel do Jornal da Brasilândia-Freguesia News e de Célio Pires, pois estes têm história na bagagem, lutas para contar. É uma questão de memória.
Este jornal sempre esteve ao lado dos que sabem que a conquista vem depois da luta. Mas é preciso lutar! (Acauã Fonseca)
Célio Pires é editor do jornal semanário Freguesia News, que circula na região Noroeste: Brasilândia, Freg. do Ó, Limão, V.N. Cachoeirinha, Pirituba e Lapa. O jornalista tem histórico de defesa dessa região e foi também o historiador deste pedaço da Capital, levantado a história de várias vilas. Com o Jornal ajudou em conquistas importantes, como as lutas populares pelo Centro Esportivo da Brasilândia, abertura do Hospitais São José, Imirim, Hospital da Brasilândia, Ponte de Pirituba...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário