A proximidade com a Freguesia do Ó faz com que parcela significativa dos jovens, residentes na Brasilândia, V.N. Cachoeirinha e em outros bairros próximos, vá para o Largo da Matriz fazer o "footing", como numa cidade do interior. A falta de praças, de eventos e de atividades culturais e esportivas nestes outros bairros, fizeram dos Largos da Matriz de Nossa Senhora do Ó e Matriz Velha (são anexos) “points” preferidos e agitados de todas as tribos locais - ali acontece "de tudo" -inclusive consumo de drogas.
As referidas praças são tomadas, nas noites de sexta e sábado e nas tardes e noites de domingo, por uma “galera” das mais festivas da Capital. Ali eles, por falta absoluta de outra opção, paqueram e namoram. Parte significativa destes bebem, fumam e cheiram; bagunçam, brigam e zoam – enfim se divertem como podem e querem.
Moradores tradicionais, que ainda resistem em morar neste que é o Centro Histórico do bairro, com seus casarios do tempo colonial, reclamam da queda da qualidade de vida e da falta de sossego, mas nem sempre encontram respaldo nas autoridades policiais.
A situação se tornou grave nas gestões Maluf/Pitta, época em que a Casa de Cultura local e Subprefeitura (então administração regional)passou a promover ali, semanalmente, shows musicais, eminentemente de pagode, atraindo para o local o contingente de jovens descrito. Atualmente os shows ao ar livre se restringem aos da festa de aniversário da Freguesia do Ó, em agosto, mas há bares que se engarregam de fazer os mesmo tipo de sho.
Embora os shows semanais tenham sido suspensos, após a ação da ong denominada Archi-Fó (Associação de Revalorização do Centro Histórico da Freguesia do Ó) – que foi dissolvida após ameaças de morte ao seu presidente e integrantes, mas perdurou ainda outros eventos no local, para desassosego dos moradores.
Hoje (janeiro de 2007): O local é dominado por casas noturnas, com música ao vivo, bons restaurantes, na parte baixa e na rua alta estão os bares populares. A freqüência de adultos na praça é limitadíssima; famílias cehgam a evitar passar por ali na hora do agito, já que o consumo de drogas é grande (mas já foi bem pior) - com picos alarmantes, ocorridos há cerca de 8 anos. Nesta época, madrugada afora o caos se instala, principalmente depois que a unidade móvel da Polícia Militar se retirava. Era recorrente aos jovens cercar carros que passam pela rua alta, mais estreita da praça, subir nos capôs, abrir portas, mexer com mulheres e motoristas. Já houve brigas e tiros por causa disto. No local, nessa época, eram comuns brigas e desavenças e as proximidades tornaram-se locais propícios para assaltos, além do que as residências próximas viravam verdadeiras latrinas e casais mais afoitos normalmente transarem nos carros estacionados ou mesmo nas praças. Uma situação de liberação geral - que foi coibida e hoje é bastante controlada pela PM, que costuma fazer blitz nos finais de semana.
Todo esse relato - escrito na época (1999) e que aqui coube algumas atualizações - foi feito especialmente para estudo desenvolvido por alunos da USP e editado pela ECA-USP em livro ("Ó Freguesia, quantas histórias") - objetivava, então, denunciar uma situação que era alarmante, mas sem reivindicar repressão policial e sim ação social-cultural. O que se mostrou foi uma cruel realidade: a Freguesia do Ó bucólica, tradicionalista e colonial que resistiu até há pouco tempo não mais existia, com exceção das velhas casas tombadas pelo Patrimônio Histórico. O local que poderia ser um centro turístico tornou-se reflexo do caos urbano e periférico - logo após a publicação deste relato, o problema estourou na Grande Imprensa (Diário de São Paulo), que publicou fotos de jovens consumindo drogas ao ar livre e mil confusões que nos dois largos ocorriam toda semana. Após isso, foi se mudando o quadro, que hoje é relativamente controlado.
FALTA DE LAZER
A falta de cultura/lazer/diversão/trabalho na periferia acaba afetando a todos, mesmo aqueles residentes em bairros mais tranqüilos e urbanizados. O abandono da periferia pelos governos municipal, estadual e federal era evidente então e só contribuia para a degeneração e queda da qualidade de vida na Capital.
Ao não oferecerem as melhorias urbanas necessárias; ao não investirem em programas educacionais, culturais, sociais; ao não apoiarem as entidades populares, que ainda insistem em querer mudar essa situação, os governaos não oferecem perspectivas, deixando a sociedade órfã e perdida, sem ter a quem recorrer. Assim acontece na Brasilândia/Freguesia do Ó e na maioria dos bairros periféricos de S. Paulo.
* Célio Pires é jornalista, editor do jornal “Freguesia News”. O presente texto (aqui atualizado) foi publicado originalmente no livro "Ó Freguesia, quantas histórias" - editado pela ECA-USP, selecionado e coordenado pela professora Clemilda Medina.
Célio Pires é editor do jornal semanário Freguesia News, que circula na região Noroeste: Brasilândia, Freg. do Ó, Limão, V.N. Cachoeirinha, Pirituba e Lapa. O jornalista tem histórico de defesa dessa região e foi também o historiador deste pedaço da Capital, levantado a história de várias vilas. Com o Jornal ajudou em conquistas importantes, como as lutas populares pelo Centro Esportivo da Brasilândia, abertura do Hospitais São José, Imirim, Hospital da Brasilândia, Ponte de Pirituba...
quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
CURIOSIDADES HISTÓRICAS DA BRASILÂNDIA
* Data - A Vila Brasilândia nasceu de uma gleba vendida a loteadora pelo ex-sitiante Brasílio Simões, onde funcionou no passado um engenho que fabricava a Especial Caninha do Ó. O registro do negócio em cartório (8º Ofício de Registro de Imóveis) se deu no dia 24 de janeiro de 1947. Uma cópia deste documento de compra e venda foi conseguida pelo jornalista Célio Pires, junto à empresa Empresa Brasilândia de Terrenos e Construções, em 1983 - vide fac-smile do documento, ao lado.
* Igreja - A inauguração da Paróquia de Santo Antônio de Vila Brasilândia ocorreu em 17 de setembro de 1953, com a cerimônia de casamento de Manoel Guilherme e Benedita Guilherme (já falecida). Antes havia uma capela, construída em 1945 e 1946, num terreno doado por certo senhor Almeida.
* Escola - O primeiro núcleo educacional da Brasilândia surgiu da dedicação e perseverança dos mineiros Luiza Sales Rezende e Benedito Rezende, que após chegarem em 1948, ficaram inconformados com a idéia de não haver nenhuma escola pública no bairro.
Em 1950, dona Luiza conseguiu uma sala emprestada do Centro Esportivo Pai Jacó e iniciou a primeira escola pública que, somente em 1951 foi reconhecida pelo governador Lucas Nogueira Garcez, com o nome de Grupo Escolar de Vila Serralheiro.
Em 1953, o governo construiu galpões de madeiras, na então Vila Paineira, onde hoje existem as escolas João Solimeo e Galdino L. Chagas.
* Cartório - O Cartório de Registro Civil de Vila Brasilândia começou a funcionar exatamente as 14h, do dia 16 de junho de 1964. O titular do Cartório era Ênio Mercaroni, falecido há dois anos. Os bairros abrangidos são: Parque Belém, Vila Teresinha, Jardim Carombé, Jardim Damasceno, Jardim Almanara, Vila Rica, Vila Souza, Vila Shimidt, Vila Penteado, entre outros.
* Ônibus - A inauguração da primeira linha de ônibus da Vila Brasilândia ocorreu no dia 3 de março de 1958. O ponto final localizava-se em frente à Igreja Santo Antônio, na Rua Parapuã.
A Vila Brasilândia ganhou, no dia 18 de julho de 1977, uma linha de ônibus executiva, que ligava o bairro à Praça Ramos de Azevedo, no Centro. Era a quarta linha de ônibus executivo implantada pela CMTC na cidade de São Paulo; a tarifa era de Cr$8,00.
Naquela época o bairro dispunha de outras duas linhas que iam até a Praça da República: a especial da CMTC (Cr$4,50) e a 848 da Viação Tusa -Transportes Urbanos S/A - (Cr$1,80). Havia também as lotações clandestinas que chegavam a cobrar Cr$15,00.
* Jornal - O primeiro jornal deste bairro foi o “Jornal da Brasilândia”, fundado em 1982. Antes disto existiu, por curto período, um minijornal denominado “Pombo Correio”, de 1964, e editado por Zezinho Rodrigues.
* Esporte. Futebol - O “pai” do futebol varzeano da Brasilândia foi seu Joaquim de Oliveira, conhecido como “Velho Quim” (já falecido). Pioneiro do bairro, ele testemunhou o nascimento dos primeiros times de futebol. Em 1949 nasceu o Elite, fundado por Edmundo e Eduardo Basílio, Luizinho Careca, Dinho e pelo próprio Quim. Em 1950, surgiu o Tiro ao Pombo, por influência de Oscar Claro Cunha, diretor do Clube de Caça Tiro ao Pombo (já extinto).
Atletismo - Em 1º de maio de 1956, a Vila Brasilândia promovia a prova pedestre “Oscar Claro Cunha”, na distância de 5 mil metros para homens e 400 para meninos de 10 a 13 anos, com o apoio do jornal Gazeta Esportiva. A prova para homens destinava-se a atletas amadores de qualquer parte de São Paulo. O vencedor da primeira prova foi Benedito Malaquias.
* Canalização - O córrego Rio das Pedras, cuja extensão é de 2 mil metros, em 20 anos de luta dos moradores da Brasilândia, foi canalizado apenas 358m, sendo 165m em 1986 e 193m em 1987, isso depois de muita luta da Sociedade Amigos de Brasilândia, comandada por Antônio Nico Pereira (já falecido). A prefeitura iniciou a canalização e inaugurou (janeiro de 2.000) parte inicial da obra; nesta gestão (Serra/Kasab) foi conseguida, por fim, a retirada de algumas casas, que impediam o prosseguimento da avenida (parada na Vila Penteado, na rua Garcia Aquiline), mas, por outro lado, um terreno já desapropriado, perto do 45º Distrito Policial, foi murado pelo proprietário, já que não lhe pagaram o valor da desapropriação.
* Igreja - A inauguração da Paróquia de Santo Antônio de Vila Brasilândia ocorreu em 17 de setembro de 1953, com a cerimônia de casamento de Manoel Guilherme e Benedita Guilherme (já falecida). Antes havia uma capela, construída em 1945 e 1946, num terreno doado por certo senhor Almeida.
* Escola - O primeiro núcleo educacional da Brasilândia surgiu da dedicação e perseverança dos mineiros Luiza Sales Rezende e Benedito Rezende, que após chegarem em 1948, ficaram inconformados com a idéia de não haver nenhuma escola pública no bairro.
Em 1950, dona Luiza conseguiu uma sala emprestada do Centro Esportivo Pai Jacó e iniciou a primeira escola pública que, somente em 1951 foi reconhecida pelo governador Lucas Nogueira Garcez, com o nome de Grupo Escolar de Vila Serralheiro.
Em 1953, o governo construiu galpões de madeiras, na então Vila Paineira, onde hoje existem as escolas João Solimeo e Galdino L. Chagas.
* Cartório - O Cartório de Registro Civil de Vila Brasilândia começou a funcionar exatamente as 14h, do dia 16 de junho de 1964. O titular do Cartório era Ênio Mercaroni, falecido há dois anos. Os bairros abrangidos são: Parque Belém, Vila Teresinha, Jardim Carombé, Jardim Damasceno, Jardim Almanara, Vila Rica, Vila Souza, Vila Shimidt, Vila Penteado, entre outros.
* Ônibus - A inauguração da primeira linha de ônibus da Vila Brasilândia ocorreu no dia 3 de março de 1958. O ponto final localizava-se em frente à Igreja Santo Antônio, na Rua Parapuã.
A Vila Brasilândia ganhou, no dia 18 de julho de 1977, uma linha de ônibus executiva, que ligava o bairro à Praça Ramos de Azevedo, no Centro. Era a quarta linha de ônibus executivo implantada pela CMTC na cidade de São Paulo; a tarifa era de Cr$8,00.
Naquela época o bairro dispunha de outras duas linhas que iam até a Praça da República: a especial da CMTC (Cr$4,50) e a 848 da Viação Tusa -Transportes Urbanos S/A - (Cr$1,80). Havia também as lotações clandestinas que chegavam a cobrar Cr$15,00.
* Jornal - O primeiro jornal deste bairro foi o “Jornal da Brasilândia”, fundado em 1982. Antes disto existiu, por curto período, um minijornal denominado “Pombo Correio”, de 1964, e editado por Zezinho Rodrigues.
* Esporte. Futebol - O “pai” do futebol varzeano da Brasilândia foi seu Joaquim de Oliveira, conhecido como “Velho Quim” (já falecido). Pioneiro do bairro, ele testemunhou o nascimento dos primeiros times de futebol. Em 1949 nasceu o Elite, fundado por Edmundo e Eduardo Basílio, Luizinho Careca, Dinho e pelo próprio Quim. Em 1950, surgiu o Tiro ao Pombo, por influência de Oscar Claro Cunha, diretor do Clube de Caça Tiro ao Pombo (já extinto).
Atletismo - Em 1º de maio de 1956, a Vila Brasilândia promovia a prova pedestre “Oscar Claro Cunha”, na distância de 5 mil metros para homens e 400 para meninos de 10 a 13 anos, com o apoio do jornal Gazeta Esportiva. A prova para homens destinava-se a atletas amadores de qualquer parte de São Paulo. O vencedor da primeira prova foi Benedito Malaquias.
* Canalização - O córrego Rio das Pedras, cuja extensão é de 2 mil metros, em 20 anos de luta dos moradores da Brasilândia, foi canalizado apenas 358m, sendo 165m em 1986 e 193m em 1987, isso depois de muita luta da Sociedade Amigos de Brasilândia, comandada por Antônio Nico Pereira (já falecido). A prefeitura iniciou a canalização e inaugurou (janeiro de 2.000) parte inicial da obra; nesta gestão (Serra/Kasab) foi conseguida, por fim, a retirada de algumas casas, que impediam o prosseguimento da avenida (parada na Vila Penteado, na rua Garcia Aquiline), mas, por outro lado, um terreno já desapropriado, perto do 45º Distrito Policial, foi murado pelo proprietário, já que não lhe pagaram o valor da desapropriação.
PROBLEMAS E CARÊNCIAS DA BRASILÂNDIA
* Por Eduardo Araújo de Castro
Durante este mais de meio século de existência, a Brasilândia passou por um processo de povoamento desordenado, como outros bairros da periferia de São Paulo, gerando uma estrutura social desigual e até mesmo desumana para seus moradores.
Os bairros e vilas que compõem o distrito Brasilândia convivem diariamente com o descaso do governo: ruas esburacadas, avenidas sem sinalização, bueiros entupidos, córregos sem canalização, condução insuficiente e falta de segurança, em contrapondo com bairros vizinhos melhores estruturados e com menores deficiências.
Esta situação de quase penúria foi detectado por estudos realizados pela Secretaria Municipal do Planejamento (Sempla) e publicado no BDP (Base de Dados para Planejamento) - Caderno Regional - concluído em 1993, e pelo Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, elaborado pela PUC-SP e coordenado por Aldaíza Sposati.
Seguem alguns dados coletados desses estudos, apresentados aqui como um alerta à população, parlamentares e governos. Quiçá possam contribuir para que o distrito de Brasilândia seja mais lembrado e que consiga maior desenvolvimento e progresso.
Saneamento básico
A Brasilândia está situada na zona norte da cidade de São Paulo e é um dos quatro distritos pertencentes à Administração Regional da Freguesia do Ó (os outros são Cachoeirinha, Freguesia do Ó e Limão). Juntos são responsáveis por uma população aproximada de 602.106; a Brasilândia com 158.740 representa 26,36% do total.
Este grande contingente populacional é desordenado e tem como conseqüência alguns fatores que comprometem seu crescimento.
Renda baixa
A faixa de renda mensal, por exemplo, é uma das mais baixas da região; 37,4% ganham até 8 salários mínimos. Já a questão de saneamento básico, que está diretamente ligada a saúde da população, e, consequentemente, relaciona-se à mortalidade infantil encontra-se em níveis preocupantes.
A rede de água e esgoto atinge somente 88% e 36%, respectivamente, do ainda é menor em relação aos outros distritos, refletindo uma taxa de mortalidade infantil alta, 11,6%.
Desemprego
Segundo relatório do BDP, o desemprego também afeta os moradores do distrito - pois hoje é este o maior problema do país. A oferta de empregos locais restringe-se à área de prestação de serviços e comércio de pequeno e médio porte. Grandes empreendimentos ainda não chegaram, entretanto, o bairro vem perdendo o estigma de ser mero “dormitório” e tem ganho atenção de empreendimentos imobiliários. Ganhou recentemente algumas lojas comerciais renomadas, como a Marabraz e Du’Bom.
Creches
A ausência de indústrias faz com que os moradores busquem trabalho em outras regiões. É grande contigente de mulheres trabalhadoras que penam com a insuficiência de creches. O número de vagas oferecidas pela rede de creches está concentrada na Brasilândia (45% do total da AR-FÓ). Há, porém, um déficit de equipamentos, segundo o BDP, de pelo menos 10 creches no distrito.
As creches municipais apresentam três tipos de administração: rede indireta: administrada pela prefeitura através da Fabes (Fundação de Assistência e Bem Estar Social); rede indireta: administrada por entidades sociais filantrópicas, com supervisão da Fabes; e rede particular conveniada: com instalações físicas e equipamentos particulares - o programa é executado por uma entidade social filantrópica.
Educação 1
Segundo dados do BDP, em 1993, o distrito Brasilândia não apresentava nenhuma carência de vagas em relação a educação de 1º Grau, com uma demanda de 26.654 vagas, sendo que foram matriculados 35.549. Ou seja, contatou-se que houve uma taxa elevada de escolarização na região, 144,6%.
Se este dado é um fator positivo, o mesmo não se pode dizer com relação ao segundo grau. Em várias escolas de São Paulo e, particularmente, na região administrativa da Freguesia do Ó, a cada início de ano tem aumentado consideravelmente a procura de vagas para o segundo grau.
Os novos edifícios e o surgimento de favelas obrigaram o Governo do Estado a construir, com urgência, duas novas escolas na Brasilândia, que entraram em funcionamento em 1.998, uma na V. Teresinha e outra no Jd. do Tiro.
Educação 2
O distrito Brasilândia é servida por 20 escolas estaduais. No ano de 1996 houve 30.578 alunos matriculados (incluídos do Ciclo Básico a 8ª série e de 2º grau e Educação Especial).
A cada ano tem aumentado a procura pela 1ª série do 1º e 1ª série do 2º gau, provocando uma procura desenfreada por vagas nas escolas públicas.
A Educação é um dos principais indicadores de desenvolvimento para os países de primeiro mundo. Sobre esse assunto o relatório do BDP esclarece que “o nosso sistema educacional tem se mostrado incapaz de encontrar soluções adequadas para o dilema ‘quantidade x qualidade’, já que a extraordinária expansão do atendimento se fez com a manutenção de elevadíssimas taxas de repetência principalmente nas 1ª e 5ª séries e com o rebaixamento da qualidade de ensino. Estes problemas atingem fundamentalmente as camadas da população de baixa renda privando-as de participar com igualdade de condições na sociedade urbano industrial”.
* Eduardo Araújo de Castro é jornalista. A presente matéria foi publicada no jornal Freguesia News, em janeiro de 1997.
Durante este mais de meio século de existência, a Brasilândia passou por um processo de povoamento desordenado, como outros bairros da periferia de São Paulo, gerando uma estrutura social desigual e até mesmo desumana para seus moradores.
Os bairros e vilas que compõem o distrito Brasilândia convivem diariamente com o descaso do governo: ruas esburacadas, avenidas sem sinalização, bueiros entupidos, córregos sem canalização, condução insuficiente e falta de segurança, em contrapondo com bairros vizinhos melhores estruturados e com menores deficiências.
Esta situação de quase penúria foi detectado por estudos realizados pela Secretaria Municipal do Planejamento (Sempla) e publicado no BDP (Base de Dados para Planejamento) - Caderno Regional - concluído em 1993, e pelo Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, elaborado pela PUC-SP e coordenado por Aldaíza Sposati.
Seguem alguns dados coletados desses estudos, apresentados aqui como um alerta à população, parlamentares e governos. Quiçá possam contribuir para que o distrito de Brasilândia seja mais lembrado e que consiga maior desenvolvimento e progresso.
Saneamento básico
A Brasilândia está situada na zona norte da cidade de São Paulo e é um dos quatro distritos pertencentes à Administração Regional da Freguesia do Ó (os outros são Cachoeirinha, Freguesia do Ó e Limão). Juntos são responsáveis por uma população aproximada de 602.106; a Brasilândia com 158.740 representa 26,36% do total.
Este grande contingente populacional é desordenado e tem como conseqüência alguns fatores que comprometem seu crescimento.
Renda baixa
A faixa de renda mensal, por exemplo, é uma das mais baixas da região; 37,4% ganham até 8 salários mínimos. Já a questão de saneamento básico, que está diretamente ligada a saúde da população, e, consequentemente, relaciona-se à mortalidade infantil encontra-se em níveis preocupantes.
A rede de água e esgoto atinge somente 88% e 36%, respectivamente, do ainda é menor em relação aos outros distritos, refletindo uma taxa de mortalidade infantil alta, 11,6%.
Desemprego
Segundo relatório do BDP, o desemprego também afeta os moradores do distrito - pois hoje é este o maior problema do país. A oferta de empregos locais restringe-se à área de prestação de serviços e comércio de pequeno e médio porte. Grandes empreendimentos ainda não chegaram, entretanto, o bairro vem perdendo o estigma de ser mero “dormitório” e tem ganho atenção de empreendimentos imobiliários. Ganhou recentemente algumas lojas comerciais renomadas, como a Marabraz e Du’Bom.
Creches
A ausência de indústrias faz com que os moradores busquem trabalho em outras regiões. É grande contigente de mulheres trabalhadoras que penam com a insuficiência de creches. O número de vagas oferecidas pela rede de creches está concentrada na Brasilândia (45% do total da AR-FÓ). Há, porém, um déficit de equipamentos, segundo o BDP, de pelo menos 10 creches no distrito.
As creches municipais apresentam três tipos de administração: rede indireta: administrada pela prefeitura através da Fabes (Fundação de Assistência e Bem Estar Social); rede indireta: administrada por entidades sociais filantrópicas, com supervisão da Fabes; e rede particular conveniada: com instalações físicas e equipamentos particulares - o programa é executado por uma entidade social filantrópica.
Educação 1
Segundo dados do BDP, em 1993, o distrito Brasilândia não apresentava nenhuma carência de vagas em relação a educação de 1º Grau, com uma demanda de 26.654 vagas, sendo que foram matriculados 35.549. Ou seja, contatou-se que houve uma taxa elevada de escolarização na região, 144,6%.
Se este dado é um fator positivo, o mesmo não se pode dizer com relação ao segundo grau. Em várias escolas de São Paulo e, particularmente, na região administrativa da Freguesia do Ó, a cada início de ano tem aumentado consideravelmente a procura de vagas para o segundo grau.
Os novos edifícios e o surgimento de favelas obrigaram o Governo do Estado a construir, com urgência, duas novas escolas na Brasilândia, que entraram em funcionamento em 1.998, uma na V. Teresinha e outra no Jd. do Tiro.
Educação 2
O distrito Brasilândia é servida por 20 escolas estaduais. No ano de 1996 houve 30.578 alunos matriculados (incluídos do Ciclo Básico a 8ª série e de 2º grau e Educação Especial).
A cada ano tem aumentado a procura pela 1ª série do 1º e 1ª série do 2º gau, provocando uma procura desenfreada por vagas nas escolas públicas.
A Educação é um dos principais indicadores de desenvolvimento para os países de primeiro mundo. Sobre esse assunto o relatório do BDP esclarece que “o nosso sistema educacional tem se mostrado incapaz de encontrar soluções adequadas para o dilema ‘quantidade x qualidade’, já que a extraordinária expansão do atendimento se fez com a manutenção de elevadíssimas taxas de repetência principalmente nas 1ª e 5ª séries e com o rebaixamento da qualidade de ensino. Estes problemas atingem fundamentalmente as camadas da população de baixa renda privando-as de participar com igualdade de condições na sociedade urbano industrial”.
* Eduardo Araújo de Castro é jornalista. A presente matéria foi publicada no jornal Freguesia News, em janeiro de 1997.
BRASILÂNDIA: UM BAIRRO INJUSTIÇADO
A situação atual da Brasilândia é a seguinte: Éum bairro que não têm áreas verdes ou praças, não possuí instituições culturais organizadas que propiciem cultura ou entretenimento à população – a Escola de Samba Rosas de Ouro fundada na Brasilândia, saiu do bairro na década de 70.
No bairro não há agência bancária; não é beneficiado por nenhuma avenida de fundo de vale (há três vias, Petrônio Portela, Fuad Luttfala e João Paulo 1º paralisadas há décadas há menos de dois quilômetros); não há segurança, projetos sociais/ culturais por parte do governo são insuficientes, com exceção de um circo-escola do governo do Estado, na vila Penteado, que supre parte ínfima da necessidade local, e o projeto Criança Esperança, da Rede Globo, instalado no final de 2005 no Centro Esportivo Brasilândia, não mais nada.
ÍNDICES
O distrito de Brasilândia, segundo Pró-Aim (órgão municipal), foi em 1.999 o sétimo bairro onde mais morrem pessoas vítimas de violência (foi o primeiro, em 98, ao lado do Jd. Ângela); está entre os quatros primeiros de maior contingente de nordestinos e também concentra a maior população negra da Capital. Estes dados, por si só, dão um panorama do grau de pobreza e exclusão que a população do mesmo se insere.
Nos bairros formadores do distrito Brasilândia o abandono sempre foi total. O Jardim Damasceno, localizado na borda da Serra da Cantareira, é exemplo clássico do descaso por parte da Prefeitura em décadas, até receber o CEU da Paz no final da gestão da prefeita Marta Suplicy – mas já veio literalmente abaixo em duas ocasiões, em junho de 93, e com as chuvas de verão, em março de 91. O local (um morro) tem constituição argilosa extremamente porosa e, logo, imprópria para ser loteado, o que o prefeito da época “não viu”. Embora tenha sido socorrido, na gestão da prefeita Luíza Erundina, que construiu enormes muros de arrimo, de lá pra cá, entretanto, convive com ruas esburacadas e abandono total até hoje. Há um projeto de dessassoreamento do córrego do Canivete e construção de parque linear no local, mas depende de se construir habitação para os moradores que ali habitam sobre o córrego.
CEU, UMA DAS MELHORIAS
Os Jardins Carumbé e Paulistano ilustram também o descaso dos governos para com o povo. Embora tenham população relativamente organizada e reivindicativa estes bairros de fundo da Brasilândia não receberam melhorias urbanas, sofrendo com enchentes, condução deficitária e falta de acessos rápidos para o Centro, etc. Na gestão atual (prefeito Gilberto Kassab) teve iniciada a obra do CEU Paulistano – que segundo previsão será inaugurado já no segundo semestre deste ano (2007).
Mas, o problema maior do distrito Brasilândia é mesmo a violência, resultado direto da exclusão social e cultural aqui esboçada. O grande contingente de jovens, a maioria desempregada ou no subemprego, acaba entrando diretamente na delinqüência. Crime, droga, gangue e vadiagem são caminhos largos que se abrem à frente e onde sempre há vaga. As mortes por causas banais nos botecos é outro mal – este também diretamente ligado ao fato da Brasilândia não ter praças, parques, áreas de lazer e programas voltados ao jovem. Também nesta gestão (em janeiro de 2006) a vila Brasilândia viu um grande terreno ser transformado na Praça Benedita Cavalheiro e agora ali se constrói um Telecentro.
Texto de Célio Pires.
No bairro não há agência bancária; não é beneficiado por nenhuma avenida de fundo de vale (há três vias, Petrônio Portela, Fuad Luttfala e João Paulo 1º paralisadas há décadas há menos de dois quilômetros); não há segurança, projetos sociais/ culturais por parte do governo são insuficientes, com exceção de um circo-escola do governo do Estado, na vila Penteado, que supre parte ínfima da necessidade local, e o projeto Criança Esperança, da Rede Globo, instalado no final de 2005 no Centro Esportivo Brasilândia, não mais nada.
ÍNDICES
O distrito de Brasilândia, segundo Pró-Aim (órgão municipal), foi em 1.999 o sétimo bairro onde mais morrem pessoas vítimas de violência (foi o primeiro, em 98, ao lado do Jd. Ângela); está entre os quatros primeiros de maior contingente de nordestinos e também concentra a maior população negra da Capital. Estes dados, por si só, dão um panorama do grau de pobreza e exclusão que a população do mesmo se insere.
Nos bairros formadores do distrito Brasilândia o abandono sempre foi total. O Jardim Damasceno, localizado na borda da Serra da Cantareira, é exemplo clássico do descaso por parte da Prefeitura em décadas, até receber o CEU da Paz no final da gestão da prefeita Marta Suplicy – mas já veio literalmente abaixo em duas ocasiões, em junho de 93, e com as chuvas de verão, em março de 91. O local (um morro) tem constituição argilosa extremamente porosa e, logo, imprópria para ser loteado, o que o prefeito da época “não viu”. Embora tenha sido socorrido, na gestão da prefeita Luíza Erundina, que construiu enormes muros de arrimo, de lá pra cá, entretanto, convive com ruas esburacadas e abandono total até hoje. Há um projeto de dessassoreamento do córrego do Canivete e construção de parque linear no local, mas depende de se construir habitação para os moradores que ali habitam sobre o córrego.
CEU, UMA DAS MELHORIAS
Os Jardins Carumbé e Paulistano ilustram também o descaso dos governos para com o povo. Embora tenham população relativamente organizada e reivindicativa estes bairros de fundo da Brasilândia não receberam melhorias urbanas, sofrendo com enchentes, condução deficitária e falta de acessos rápidos para o Centro, etc. Na gestão atual (prefeito Gilberto Kassab) teve iniciada a obra do CEU Paulistano – que segundo previsão será inaugurado já no segundo semestre deste ano (2007).
Mas, o problema maior do distrito Brasilândia é mesmo a violência, resultado direto da exclusão social e cultural aqui esboçada. O grande contingente de jovens, a maioria desempregada ou no subemprego, acaba entrando diretamente na delinqüência. Crime, droga, gangue e vadiagem são caminhos largos que se abrem à frente e onde sempre há vaga. As mortes por causas banais nos botecos é outro mal – este também diretamente ligado ao fato da Brasilândia não ter praças, parques, áreas de lazer e programas voltados ao jovem. Também nesta gestão (em janeiro de 2006) a vila Brasilândia viu um grande terreno ser transformado na Praça Benedita Cavalheiro e agora ali se constrói um Telecentro.
Texto de Célio Pires.
OS PRIMÓRDIOS DA BRASILÂNDIA
A Vega e Brasílio nos primórdios da Brasilândia
No dia 24 de janeiro de 1947 a família Simões vendeu ao empreendedor imobiliário José Munhoz Bonilha a gleba de terra que deu origem ao loteamento denominado Brasilândia. O loteamento teve sucesso imediato, já que o prefeito de então, Prestes Maia (1938 a 1945), havia desapropriado velhos casarões e cortiços do Centro de São Paulo para ampliar as avenidas São João, Ipiranga, Duque de Caxias, entre outras. As famílias pobres saídas dali vieram em grande parte para a Zona Norte, motivados pelos baixos preços dos lotes e por ganharem parte das telhas e tijolos.
A facilidade de pagamento nas compras de terrenos oferecida pela empresa imobiliária atraía muita gente para a região. - "Vendíamos um pedaço de terra quase sem entrada e para pagar em 12 meses sem juros, além de fornecermos parte do material para construção", contou José Munhoz Bonilha ao Jornal datarde, quando tinha 80 anos (na década de 80).
Em 1947 chegou ao bairro o português João Rodrigues (falecido no final de 1996), que trabalhou na pedreira Vega Sopave como encarregado de obras. Rodrigues acompanhou de perto a chegada das famílias dos operários que vinham trabalhar na pedreira. Ele contou, quando do levantamento histórico, que a Pedreira Vega era quem conservava a principal via do bairro, jogando cascalho, a atual Rua Parapuã. A empresa Vega começou suas atividades na Brasilândia em 1939; logo depois foi desativada e voltou a funcionar em 1946, quando trouxe para a região muitos moradores, já que fornecia moradia aos seus funcionários. Na década de 80 foi, aos poucos, sendo desativada. Hoje, onde funcionava, localiza-se um reservatório da Sabesp, na Av. Domingos Vega.
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Brasilândia: primo pobre da Freguesia do Ó
Ao se falar da Freguesia do Ó e não citar a vila Brasilândia é um erro e vice-versa, mesmo porque hoje são partes complementares da Subprefeitura. Embora com origens e realidades diversas os dois bairros da zona norte são ligados umbilicalmente já que todas as vias de saída da Brasilândia passam obrigatoriamente pela Freguesia do Ó. Enquanto a Freguesia tem sua origem no período colonial, a Brasilândia foi loteada em 1947, originando-se de um antigo sítio pertencente a Brasílio Simões e vendido à Empresa Brasilândia de Terrenos e Construções.Os primeiros moradores do loteamento vieram principalmente das moradias populares e cortiços existentes no Centro e que foram demolidos para dar lugar às avenidas São João, Duque de Caxias, Ipiranga, durante gestão do prefeito Prestes Maia. Começava assim a história de um bairro marcado pela exclusão e abandono. Também veio para a Brasilândia toda a leva de migrantes que chegara a S. Paulo na época, assim como imigrantes portugueses e italianos, além de interioranos de S. Paulo, de Jaú, Pederneiras e Bariri - todos atraídos pelo novo loteamento que oferecia a quem comprasse um terreno, parte dos tijolos e telhas. Depois desse loteamento vieram outros e o bairro cresceu por sobre seus morros e baixadas. A partir da década de 60 surgiram bairros adjacentes, como vila Santa Teresinha, os Jardins Carumbé, Damasceno, Vista Alegre, etc - todos clandestinos e destinados à famílias de baixa renda. Com terrenos minúsculos e ruas estreitas não contemplaram praças públicas. Os espaços livres, públicos e particulares, remanescentes, foram quase que totalmente ocupados por favelas - deixando a Brasilândia sem áreas livres até mesmo para se construir novas escolas e outros prédios públicos.
A vila e posteiromente o distrito Brasilândia foi marcado sempre pela exclusão e abandono por parte dos governos, marcadamente por parte da Prefeitura. Depois de anos sem grandes obras, em 1.984, a população local conseguiu, após ampla mobilização popular, a construção de um centro educacional e esportivo no bairro. O então prefeito Mário Covas (1983 a 1985) teve que desapropriar a área onde o mesmo foi construído na Estrada do Sabão. Era uma última grande gleba mais central desocupada do bairro, pois logo após isso, áreas próximas foram totalmente tomadas por favela, mas em área adjacente, prevista no projeto original para ser um sacolão, de fato ganhou o equipamento na gestão da prefeita Luiza Erundina; já na área restante, onde deveria ser construído um Teatro ou Casa de Cultura e uma creche, foi indevidamente transformada em CDM, isto na gestão do prefeito Paulo Maluf - que além de nada construir no bairro, ainda destinou área definida em projeto para outro fim.
Os presentes textos e a pesquisa histórica sobre a Vila Brasilândia foram feitos pelo jornalista Célio Pires, editor do jornal Freguesia News (www.freguesianews.com.br) e também deste blog.
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