quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

FREGUESIA DO Ó, O POINT DA BRASILÂNDIA

A proximidade com a Freguesia do Ó faz com que parcela significativa dos jovens, residentes na Brasilândia, V.N. Cachoeirinha e em outros bairros próximos, vá para o Largo da Matriz fazer o "footing", como numa cidade do interior. A falta de praças, de eventos e de atividades culturais e esportivas nestes outros bairros, fizeram dos Largos da Matriz de Nossa Senhora do Ó e Matriz Velha (são anexos) “points” preferidos e agitados de todas as tribos locais - ali acontece "de tudo" -inclusive consumo de drogas.

As referidas praças são tomadas, nas noites de sexta e sábado e nas tardes e noites de domingo, por uma “galera” das mais festivas da Capital. Ali eles, por falta absoluta de outra opção, paqueram e namoram. Parte significativa destes bebem, fumam e cheiram; bagunçam, brigam e zoam – enfim se divertem como podem e querem.
Moradores tradicionais, que ainda resistem em morar neste que é o Centro Histórico do bairro, com seus casarios do tempo colonial, reclamam da queda da qualidade de vida e da falta de sossego, mas nem sempre encontram respaldo nas autoridades policiais.

A situação se tornou grave nas gestões Maluf/Pitta, época em que a Casa de Cultura local e Subprefeitura (então administração regional)passou a promover ali, semanalmente, shows musicais, eminentemente de pagode, atraindo para o local o contingente de jovens descrito. Atualmente os shows ao ar livre se restringem aos da festa de aniversário da Freguesia do Ó, em agosto, mas há bares que se engarregam de fazer os mesmo tipo de sho.

Embora os shows semanais tenham sido suspensos, após a ação da ong denominada Archi-Fó (Associação de Revalorização do Centro Histórico da Freguesia do Ó) – que foi dissolvida após ameaças de morte ao seu presidente e integrantes, mas perdurou ainda outros eventos no local, para desassosego dos moradores.

Hoje (janeiro de 2007): O local é dominado por casas noturnas, com música ao vivo, bons restaurantes, na parte baixa e na rua alta estão os bares populares. A freqüência de adultos na praça é limitadíssima; famílias cehgam a evitar passar por ali na hora do agito, já que o consumo de drogas é grande (mas já foi bem pior) - com picos alarmantes, ocorridos há cerca de 8 anos. Nesta época, madrugada afora o caos se instala, principalmente depois que a unidade móvel da Polícia Militar se retirava. Era recorrente aos jovens cercar carros que passam pela rua alta, mais estreita da praça, subir nos capôs, abrir portas, mexer com mulheres e motoristas. Já houve brigas e tiros por causa disto. No local, nessa época, eram comuns brigas e desavenças e as proximidades tornaram-se locais propícios para assaltos, além do que as residências próximas viravam verdadeiras latrinas e casais mais afoitos normalmente transarem nos carros estacionados ou mesmo nas praças. Uma situação de liberação geral - que foi coibida e hoje é bastante controlada pela PM, que costuma fazer blitz nos finais de semana.

Todo esse relato - escrito na época (1999) e que aqui coube algumas atualizações - foi feito especialmente para estudo desenvolvido por alunos da USP e editado pela ECA-USP em livro ("Ó Freguesia, quantas histórias") - objetivava, então, denunciar uma situação que era alarmante, mas sem reivindicar repressão policial e sim ação social-cultural. O que se mostrou foi uma cruel realidade: a Freguesia do Ó bucólica, tradicionalista e colonial que resistiu até há pouco tempo não mais existia, com exceção das velhas casas tombadas pelo Patrimônio Histórico. O local que poderia ser um centro turístico tornou-se reflexo do caos urbano e periférico - logo após a publicação deste relato, o problema estourou na Grande Imprensa (Diário de São Paulo), que publicou fotos de jovens consumindo drogas ao ar livre e mil confusões que nos dois largos ocorriam toda semana. Após isso, foi se mudando o quadro, que hoje é relativamente controlado.

FALTA DE LAZER

A falta de cultura/lazer/diversão/trabalho na periferia acaba afetando a todos, mesmo aqueles residentes em bairros mais tranqüilos e urbanizados. O abandono da periferia pelos governos municipal, estadual e federal era evidente então e só contribuia para a degeneração e queda da qualidade de vida na Capital.
Ao não oferecerem as melhorias urbanas necessárias; ao não investirem em programas educacionais, culturais, sociais; ao não apoiarem as entidades populares, que ainda insistem em querer mudar essa situação, os governaos não oferecem perspectivas, deixando a sociedade órfã e perdida, sem ter a quem recorrer. Assim acontece na Brasilândia/Freguesia do Ó e na maioria dos bairros periféricos de S. Paulo.

* Célio Pires é jornalista, editor do jornal “Freguesia News”. O presente texto (aqui atualizado) foi publicado originalmente no livro "Ó Freguesia, quantas histórias" - editado pela ECA-USP, selecionado e coordenado pela professora Clemilda Medina.

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