quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

PROBLEMAS E CARÊNCIAS DA BRASILÂNDIA

* Por Eduardo Araújo de Castro

Durante este mais de meio século de existência, a Brasilândia passou por um processo de povoamento desordenado, como outros bairros da periferia de São Paulo, gerando uma estrutura social desigual e até mesmo desumana para seus moradores.
Os bairros e vilas que compõem o distrito Brasilândia convivem diariamente com o descaso do governo: ruas esburacadas, avenidas sem sinalização, bueiros entupidos, córregos sem canalização, condução insuficiente e falta de segurança, em contrapondo com bairros vizinhos melhores estruturados e com menores deficiências.
Esta situação de quase penúria foi detectado por estudos realizados pela Secretaria Municipal do Planejamento (Sempla) e publicado no BDP (Base de Dados para Planejamento) - Caderno Regional - concluído em 1993, e pelo Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, elaborado pela PUC-SP e coordenado por Aldaíza Sposati.
Seguem alguns dados coletados desses estudos, apresentados aqui como um alerta à população, parlamentares e governos. Quiçá possam contribuir para que o distrito de Brasilândia seja mais lembrado e que consiga maior desenvolvimento e progresso.

Saneamento básico
A Brasilândia está situada na zona norte da cidade de São Paulo e é um dos quatro distritos pertencentes à Administração Regional da Freguesia do Ó (os outros são Cachoeirinha, Freguesia do Ó e Limão). Juntos são responsáveis por uma população aproximada de 602.106; a Brasilândia com 158.740 representa 26,36% do total.
Este grande contingente populacional é desordenado e tem como conseqüência alguns fatores que comprometem seu crescimento.

Renda baixa
A faixa de renda mensal, por exemplo, é uma das mais baixas da região; 37,4% ganham até 8 salários mínimos. Já a questão de saneamento básico, que está diretamente ligada a saúde da população, e, consequentemente, relaciona-se à mortalidade infantil encontra-se em níveis preocupantes.
A rede de água e esgoto atinge somente 88% e 36%, respectivamente, do ainda é menor em relação aos outros distritos, refletindo uma taxa de mortalidade infantil alta, 11,6%.

Desemprego
Segundo relatório do BDP, o desemprego também afeta os moradores do distrito - pois hoje é este o maior problema do país. A oferta de empregos locais restringe-se à área de prestação de serviços e comércio de pequeno e médio porte. Grandes empreendimentos ainda não chegaram, entretanto, o bairro vem perdendo o estigma de ser mero “dormitório” e tem ganho atenção de empreendimentos imobiliários. Ganhou recentemente algumas lojas comerciais renomadas, como a Marabraz e Du’Bom.

Creches
A ausência de indústrias faz com que os moradores busquem trabalho em outras regiões. É grande contigente de mulheres trabalhadoras que penam com a insuficiência de creches. O número de vagas oferecidas pela rede de creches está concentrada na Brasilândia (45% do total da AR-FÓ). Há, porém, um déficit de equipamentos, segundo o BDP, de pelo menos 10 creches no distrito.
As creches municipais apresentam três tipos de administração: rede indireta: administrada pela prefeitura através da Fabes (Fundação de Assistência e Bem Estar Social); rede indireta: administrada por entidades sociais filantrópicas, com supervisão da Fabes; e rede particular conveniada: com instalações físicas e equipamentos particulares - o programa é executado por uma entidade social filantrópica.

Educação 1
Segundo dados do BDP, em 1993, o distrito Brasilândia não apresentava nenhuma carência de vagas em relação a educação de 1º Grau, com uma demanda de 26.654 vagas, sendo que foram matriculados 35.549. Ou seja, contatou-se que houve uma taxa elevada de escolarização na região, 144,6%.
Se este dado é um fator positivo, o mesmo não se pode dizer com relação ao segundo grau. Em várias escolas de São Paulo e, particularmente, na região administrativa da Freguesia do Ó, a cada início de ano tem aumentado consideravelmente a procura de vagas para o segundo grau.
Os novos edifícios e o surgimento de favelas obrigaram o Governo do Estado a construir, com urgência, duas novas escolas na Brasilândia, que entraram em funcionamento em 1.998, uma na V. Teresinha e outra no Jd. do Tiro.

Educação 2
O distrito Brasilândia é servida por 20 escolas estaduais. No ano de 1996 houve 30.578 alunos matriculados (incluídos do Ciclo Básico a 8ª série e de 2º grau e Educação Especial).
A cada ano tem aumentado a procura pela 1ª série do 1º e 1ª série do 2º gau, provocando uma procura desenfreada por vagas nas escolas públicas.
A Educação é um dos principais indicadores de desenvolvimento para os países de primeiro mundo. Sobre esse assunto o relatório do BDP esclarece que “o nosso sistema educacional tem se mostrado incapaz de encontrar soluções adequadas para o dilema ‘quantidade x qualidade’, já que a extraordinária expansão do atendimento se fez com a manutenção de elevadíssimas taxas de repetência principalmente nas 1ª e 5ª séries e com o rebaixamento da qualidade de ensino. Estes problemas atingem fundamentalmente as camadas da população de baixa renda privando-as de participar com igualdade de condições na sociedade urbano industrial”.

* Eduardo Araújo de Castro é jornalista. A presente matéria foi publicada no jornal Freguesia News, em janeiro de 1997.

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