POR MÁRCIA BARRAL
Tenho observado um forte crescimento de organizações sociais diversas, desenvolvendo trabalhos na Brasilândia, em áreas como cultura, educação e meio ambiente. Várias iniciativas estão acontecendo ao mesmo tempo. Esse diversificado ambiente se contrasta com a realidade local e com os números divulgados pela imprensa (em 2004), que destaca a Vila Brasilândia como uma das regiões mais violentas de São Paulo e que apresenta altíssimos índices de exclusão social e vulnerabilidade.
DADOS DA BRASILÂNDIA - Dos 247.328 habitantes, 54,5% vivem em condições de alta e altíssima privação (1), a maior parte composta por famílias jovens. Quase 10% da população de Vila Brasilândia é composta por jovens. Estudo realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social revela que 4,11% dos adolescentes que estão envolvidos com atos infracionais na cidade de São Paulo (prestação serviços à comunidade, em liberdade assistida e internos na Febem) são oriundos do distrito Brasilândia.
A ocupação desordenada do bairro não deixou espaços livres para criação de áreas de lazer e cultura e construção de novos equipamentos públicos. Os escassos equipamentos da Prefeitura e do Estado são mais do que insuficientes para atender a elevada população. As moradias refletem também o resultado da combinação entre ocupação desordenada e pobreza: quanto mais entramos nos fundões da Brasilândia, mais encontramos moradias em situação de risco de deslizamento e ruas e casas com características áridas, dando um tom cinzento ao bairro. A pergunta que fazemos é como reverter esse quadro perverso, já que ele é determinado por condições históricas e estruturais do bairro?
O distrito Brasilândia (na gestão Marta Suplicy como prefeita) foi um dos primeiros da Capital beneficiados com os Programas Sociais, muitos dos programas habitacionais aconteceram no bairro (como o Lote Legal, no Jd. Paulistano e trecho do Jd. Vista Alegre) e a regularização fundiária de muitas favelas, permitindo que milhares de famílias tivessem acesso ao título de propriedade da moradia); recebeu programas de controle do risco; equipes de saúde da família e a implantação do CEU Paz, no Jd. Paraná, entre outros.
Sabemos que ainda falta muito para melhorar as condições de vida no bairro e é necessário intensificar a presença do poder público na área. Mas, penso que, ao lado disso, precisamos encontrar mecanismos de valorizar e aumentar a auto-estima dos moradores, potencializar e divulgar as iniciativas existentes, trocar experiências e, com isso, atrair novos investimos e obter apoio externo. Temos um grande capital social no bairro que precisa desabrochar e se tornar conhecido na cidade. As experiências de outras regiões mostram que esse tem sido um caminho bem sucedido para romper com o ciclo da violência e da exclusão social. Quando os cidadãos passam a ser protagonistas e atuam pela sua coletividade, as mudanças acontecem mais rápido e os bairros melhoram.
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Nota do editor: O presente texto escrito por Márcia Barral foi publicado no Freguesia News, em 12/06/2004 (edição 699). Márcia foi administradora regional/subprefeita da Freguesia do Ó por pouco mais de um ano, mas teve que ceder o cargo para um consórcio de pessoas indicadas pelos ex-vereadores Baratão (PL) e José Viviani Ferraz (PL), devido à negociação feita na Câmara Municipal pela prefeita Marta Suplicy – grupo regional de forte conotação fisiológica e que nada trouxe de substancial para o distrito Brasilândia, diferente de Márcia Barral, cujo maior mérito foi ter desfeito o nó jurídico que embagava a obra do Esqueleto do Jânio (em V.N. Cachoeirinha) por quase duas décadas e trocado o objetivo da mesma, que, de mercado municipal, passou a ser definida com Centro Cultural. A obra não andou na gestão Marta. Foi concluída pelo prefeito José Serra, que o transformou no Centro Cultural de Juventude.
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