sábado, 3 de fevereiro de 2007

FILME “ANTONIA” PRÉ-ESTREOU NA VILA BRASILÂNDIA

"Antônia" - o filme da diretora Tata Amaral, que tem ruas da Brasilândia como cenário, fez pré-estréia neste bairro, no dia 11/01/2007, e provocou debate acirrado com a comunidade. “O que a Brasilândia ganhará com o filme?” – questionou um líder comunitário. Por outro lado a platéia reagiu positivamente, pois o filme lançou um olhar mais positivo sobre a Brasilândia, que foi estigmatizada no passado pelos crimes e violência, principalmente pelo jornal Notícias Populares e pelos programas policiais “mundo cão” das emissoras populares de rádio. Pesa sobre o bairro os maiores índices de exclusão, depois de décadas de falta de ação governamental, principalmente por parte da Prefeitura, que em 20 anos, quase nada fez ali de obras básicas.
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As atrizes-cantoras protagonistas do filme "Antonia" Leilah Moreno, Quelynah e Cindy, fizeram a alegria da meninada presente à pré-estréia do filme no cine Tela Brasil – cinema intinerante – que ficou armado no Jd. Iracema, na divisa da Brasilândia e Freguesia do Ó, nos dias 11, 12 e 13 de janeiro. Sandra de Sá e o rapper Thaíde também atores no filme, deram muitos autógrafos e posaram para fotos. No geral o público pareceu aprovar o filme que, segundo a diretora, lança “um novo olhar sobre a periferia, por meio da música. Os jovens daqui estavam exaustos de ver sua imagem ligada a violência e drogas”, explicou Tata Amaral.

- “Vim porque é a realidade que a gente vive. Na televisão, não tive tempo de assistir. Tenho que acordar muito cedo e não dava para ver todos os dias”, diz Nadja Alcântara Barbosa, 35 anos, auxiliar de limpeza.

Luís Carlos, 50 anos, questionou a diretora durante o debate que antecedeu o filme sobre o enredo. “Queria saber se o filme iria focar a violência como aconteceu no ‘Cidade de Deus’, com crianças portando armas e traficando drogas. Porque no Rio eles aceitam tudo; e a Globo mostra. Esse tipo de violência prejudica as crianças”, disse. Ele perguntou ainda sobre o que as crianças e a comunidade locais ganhariam com o filme e questionou ainda a ausência de Negra Li, protagonistas principal do filme e ausente, por alegado problema de saúde. Na realidade recuperava-se de cirurgias plásticas.

- “Você está totalmente equivocado quando torna essa sua opinião a opinião da Brasilândia”, respondeu Gilson Carvalho, 34 anos, também morador do bairro, irmão de Negra Li, e que participou da produção.
Durante a exibição muitos comentários sobre as ruas, sobre figurantes conhecidos e sobre o enredo: “É assim mesmo. Pobre só pega táxi na hora da doença”, disse alguém quando um dos personagens ferido é embarcado em um táxi.

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A LUTA É COM A GENTE.
É compreensível a cobranças do líder comunitário aos artistas, assim como é reconhecido o direito de Negra Li ter se mudado da Brasilândia, ou de não ter vindo ao debate, ou ter feito operação plástica, ou ter se negado a participar de graça em eventos no bairro, mas é que a Brasilândia espera, há muito tempo, que alguém faça alguma coisa por ela - e isto foi feito agora, mas as lideranças locais têm que entender que mudanças substanciais só aconteceram com união e luta política. O filme chamou a atenção para o bairro, mas a luta e com quem é do bairro.

DEMORÔ! - Uma pessoa da produção chegou a dizer que asfaltaram ruas no bairro por causa do filme, uma bobagem sem precedentes – o filme em si não mudará realidade nenhuma – ao contrário, se o filme foi feito no bairro é por causa do alerta feito, há tempo, pelos líderes comunitários, por este jornal e imprensa em geral, devido aos índices alarmantes de violência e exclusão social/ cultural. Se começaram a acontecer obras é por que houve e há luta e pessoas aguerridas ali e, hoje, há políticos, sim, comprometidos com as mudanças que a população reclama há mais de 20 anos, sem que fosse ouvida. Demorô!

NÃO É SÓ RAP: Outro viés do filme: mostrar a Brasilândia como se fosse um núcleo exclusivo do rap. O samba é o ritmo preferido pelos jovens - há pesquisas que indicam isso – afinal ali nasceu a Rosas de Ouro. O reggae, o pop e a MPB têm força também no bairro.

Texto: Célio Pires

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